MICROBIOTA E QUALIDADE DO SONO
Um dos setores da investigação médica que tem apresentado grande desenvolvimento nos últimos anos diz respeito ao estudo da microbiota intestinal, anteriormente conhecida como flora intestinal. Cerca de cem trilhões de bactérias, vírus, fungos e outros elementos habitam nossos intestinos e formam a microbiota, a qual possui pelo menos 100 espécies de bactérias. Apesar dessa variedade bacteriana ser comum a todas as pessoas, a composição da microbiota é individual e pode sofrer alterações por diversos fatores como alimentos e hábitos alimentares, medicamentos, estilo de vida, mudanças no peso corporal, genética, envelhecimento, tipo de parto (vaginal ou cesariana), etc.
Ultimamente, estudos específicos estão sendo dirigidos para avaliar a influencia do sono sobre a microbiota intestinal. Pesquisa recente realizada por cientistas do “King’s College”, Inglaterra, mostra que ir dormir em horários irregulares promove o aparecimento de bactérias intestinais nocivas, o que leva a mudanças na composição da microbiota intestinal. A simples diferença entre acordar nos dias de trabalho e nos dias de folga, o que alguns denominam de “jet lag social”, pode ter repercussões nos microrganismos que habitam o trato digestivo. Dessa forma, podem ocorrer mudanças na digestão dos alimentos, na síntese de certas vitaminas, na proteção contra bactérias patógenas e mesmo na regulação do sistema imunológico.
No estudo inglês, foram pesquisados os padrões de sono e as bactérias intestinais de quase 1000 voluntários e observou-se diferença significativa na composição da microbiota, à depender da regularidade com que os participantes dormiam. Observou-se ainda que foram necessários apenas 90 minutos para ocorrer modificação na composição e promover o desenvolvimento de microrganismos nocivos e que produzem toxinas. Quando o “jet lag social” é amplo entre dias de trabalho e finais de semana, os pesquisadores perceberam que, muitas vezes, isso se devia a hábitos alimentares pouco saudáveis, como tendência ao consumo de bebidas açucaradas e menor ingestão de frutas.
Por fim, a pesquisa mostrou que foram identificadas três espécies de bactérias intestinais que eram particularmente abundantes em participantes que sofriam “jet lag social” grave: duas espécies de Clostridia e uma de peptococcaceae. Nesse sentido, é possível que estejam associadas a problemas de saúde como obesidade, diabetes e doenças cárdiometabólicas, além de promoverem inflamação e risco de acidentes cardiovasculares. Por isso, o estudo aponta que é importante manter hábitos regulares de sono, pois variações importantes podem ter impacto significativo na saúde do ser humano, embora se saiba que mais pesquisas são necessárias para melhor elucidar os mecanismos que induzem diferenças na microbiota em casos de sono irregular.
Dr. João Modesto Filho
CRM 973/PB